09 dezembro 2011

Perfeita imperfeição.

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Real Estate + Pega Monstro
Galeria Zé dos Bois . Lisboa
03. dezembro . 2011

Crónica para a Rádio Universidade de Coimbra.

Cinco tipos de New Jersey que agora vivem em Brooklyn e que fazem música. Pode parecer redutor mas é, neste caso, um elogio. Numa atitude que mistura em doses iguais a descontracção e a introversão, os Real Estate apresentaram-se, pela segunda vez, na Galeria Zé dos Bois. Antes deles tinham tocado as irmãs Reis que dão pelo nome de Pega Monstro e que apenas com as suas vozes congénitas, uma guitarra suja e uma bateria frenética, deixaram logo no ar o ambiente de que com vontade e com poucos meios é possível arrebatar audiências.

Foi nesse mar que, de alguma forma, começaram por navegar os Real Estate. Ainda que ao segundo disco, e depois de uma reconfiguração na formação da banda, os americanos estejam mais polidos, mais atentos ao detalhe, mais preocupados com as diferentes camadas da sua música. E também mais contemplativos. Ver e ouvir ao vivo os Real Estate, potenciados pela pequena sala da ZDB que, completamente cheia, se mostrava totalmente focada na música, é apreciar de forma extrema os sentimentos que a audição de Days e do seu anterior disco homónimo provocam. Uma urgência contida, uma calma inquieta, em torno de melodias perfeitas, mas não demasiado perfeitas. Instrumentais longos e circulares, por vezes quase hipnóticos. Letras simples, pessoais, quotidianas, que transportam consigo uma melancolia triste mas igualmente sonhadora.

Tudo isto nos acompanhou ao longo do alinhamento dessa noite. Trezes músicas, três delas do seu registo de 2009 (Fake Blues, Suburban Beverage e Beach Comber) e nove do seu novo LP, das quais se destacaram It’s Real, Out Of Tune, Municipality e Younger Than Yesterday . E ainda a instrumental Kinder Blumen com que presentearam o público no encore. Fica, claro, a faltar uma para completar as treze, a versão de Sunlight Bathed The Golden Glow, original dos britânicos Felt e cantada pelo guitarrista Matthew Mondanile. Temas intercalados ou simultâneos com alguns “obrigados”, com sorrisos para uma menina que espreitava pela janela e até com um brinde a alguém na primeira fila, sobrando sempre tempo para ajeitar o boné ou limpar os óculos à camisa…

No final do concerto, entre algumas cervejas, houve a oportunidade de falar com o baixista Alex Bleeker. Expressou-nos o amor particular que já tem a Portugal comparativamente a outros países, com um cândido sorriso e um simples gesto horizontal, com as mãos esticadas, indo da (proeminente) barriga, para os lados, traduzindo a sensação de “sossego” tão apreciada por quem anda semanas intermináveis em tour… A terminar a conversa, e quando se falava de bandas como Pavement e Fiery Furnaces, surgiu uma última pergunta que nos vinha assaltando a mente: “Algum de vocês gosta de Galaxie 500?”. A resposta foi pronta e a sorrir: “Todos!!!...”. Definitivamente adoráveis, estes rapazes…

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