20 novembro 2008

A indie-folk também sua.

Jonquil
Mercado Negro . Aveiro
23 . outubro . 2008


Há umas semanas os Jonquil tiveram de tomar uma decisão: no dia 23 de Outubro podiam voltar a tocar na Polónia ou ir a Portugal. Olharam para o mapa e, segundo eles, não foi difícil decidir. Claro que disseram que não estavam arrependidos com a escolha, até porque tinham comido o melhor bife das suas vidas...

Na quinta-feira foram recebidos pelo Mercado Negro, espaço em Aveiro que tem acolhido, nos últimos tempos, nomes muito interessantes do universo indie nacional e internacional, como Scout Niblet, Nancy Elizabeth, Diane Cluck e Old Jerusalem. Num mini-auditório (tipo de espaço a que já estariam habituados pois este projecto, tal como muitos na actualidade, nasceu num pequeno quarto) que acolhia cerca de 80 pessoas, a banda inglesa liderada por Hugo Manuel (sim, isso mesmo) deu um concerto que se ficou pela hora de duração e onde tocou maioritariamente o seu segundo disco, 'Lions', editado no ano passado, que sucedeu a 'Sunny Casinos', do qual não tocaram nenhum tema. Um dos destaques foi a apresentação de novas faixas (Parasol, Night Time Story, The Weight of Lying on Your Back), incluídas no EP 'Whistle Low', lançado recentemente.

Durante o concerto, os Jonquil estiveram no interior de um triângulo formado por Beirut, Clap Your Hands Say Yeah e Arcade Fire. Nomes como Timber Timbre ou The Accidental ficaram de fora pois este concerto não explorou o lado mais introspectivo patente no album 'Lions', o LP que lhes deu algum destaque. Este terá sido, talvez, o único aspecto a apontar à banda de Oxford: num espaço tão pequeno e intimista teriam funcionado na perfeição momentos mais calmos, em que nem todos os elementos da banda tivessem de intervir. Das poucas vezes que tal aconteceu o ambiente criado foi sublime. Optaram, no entanto, por um concerto mais enérgico em que até músicas mais calmas, como 'Pencil, Paper' foram interpretadas com uma urgência contagiante. A vontade e o gosto por tocar estavam bem patentes nas caras e nos poucos movimentos permitidos num palco tão exíguo preenchido por seis rapazes, em que cada um tinha à sua responsabilidade, pelo menos, dois instrumentos.

No final, a sensação era a de ter assistido a um momento musical precioso, reservado aos poucos que cabiam na sala, e capaz de nos fazer acreditar cada vez mais no sucesso deste tipo de bandas, deste tipo de espaços, deste tipo de eventos. Nos dias seguintes os Jonquil iriam até ao Porto e a Lisboa, antes de partirem para Espanha. Em Aveiro deixaram o sabor a magia.

'Pencil, Paper'

'Lions'

Foto e vídeos: Joana Corker

30 outubro 2008

Blitzen Trapper

[Furr . Sub Pop . 2008]









Já estamos todos habituados a que de Portland, Oregon nos chegue óptima música. O novo disco dos Blitzen Trapper é mais um exemplo para acrescentar à lista.

Depois de 'Blitzen Trapper' (2003) e 'Field Rexx' (2004), ao terceiro longa duração com edição de autor 'Wild Mountain Nation' (2007), recebem a atenção e a crítica favorável de publicações como a Spin e a Nerve e dos sites Pitchfork Media e Stereogum. Esta exposição permite ao sexteto mudar-se para a 'Subpop', selo que lançou, em Setembro deste ano, 'Furr'.

Se estes rapazes de Portland pudessem escolher outro tempo para viver, escolheriam certamente os anos 60 e 70. É lá que este disco nasce, na folk, no psicadelismo e até no glam rock, marcantes nessas décadas. É, portanto, quase impossível ouvir 'Furr' e não recordar nomes como Bob Dylan, The Beatles, 13th Floor Elevators, Buffalo Springfield e David Bowie, mas também bandas mais recentes como os Pavement ou Of Montreal

Eric Earley é o líder da banda e foi também o produtor deste disco. Compôs a maioria das músicas num velho piano resgatado de uma antiga escola de dança e dele resta, nas gravações, o seu som distintivo em faixas como 'Not Your Lover' e 'Echo/Always On/EZ Con'.

Vagueando entre temas mais acústicos, como 'Furr' (ver vídeo), 'Lady on the Water' e 'Black River Killer', outros com toadas pop, como 'Sleepytime in the Western World' e 'God & Suicide' e ainda o inevitável rock em 'Fire & Fast Bullets' e 'Love U', os Blitzen Trapper conseguem um disco com uma impressionante coesão sonora. É um disco extremamente sólido e viciante, daqueles em que não se pode tirar uma nota que seja.


07 outubro 2008

Domingo

[Domingo . 3rd Side Records . 2008]

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Pouco se sabe ainda sobre os Domingo. Vêm de Paris e são compostos por Anna (uma menina de grandes olhos negros) e Samy (um rapaz de barba e cabelos ruivos). Ela tem ascendência americana e ele libanesa. Vivem juntos. Gostam de Elliot Smith, Bonnie Prince Billy, Nick Drake, Grandaddy...

Estaria já dito, talvez, o suficiente para despertar a curiosidade de muitos... Anna e Samy lançaram recentemente, pela 3rd Side Records, o seu disco de estreia. Chama-se também Domingo, um nome que foram buscar ao castelhano, mas que também poderiam ter vindo buscar ao português... É um album de músicas acústicas, onde surgem alguns sopros de percussão e teclados, mas onde as guitarras e as vozes imperam em canções tão doces quanto tristes.

A palavra que talvez possa melhor descrever este(s) Domingo é delicadeza. Letras que falam de desertos, da adolescência, de segredos de família, de confissões, conduzem-nos por melodias simples, mas encantadoras.

Para ouvir grande parte do album basta ir ao myspace da banda. Como é difícil arranjá-lo, eu empresto-o a quem o quiser...

08 setembro 2008

Darren Hanlon

Let's have a Port?...
Salão Brazil Coimbra 06.09.2008
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O passado dia 6 de Setembro foi um dia de sorte. Assistimos a duas estreias, em Coimbra: a de Darren Hanlon (músico australiano com créditos firmados na cena musical daquele país, tendo já dividido o palco com Jens Lekman e Architecture In Helsinki) e a da associação Lugar Comum, recentemente criada e que procura promover concertos e actividades ligadas ao mundo da música apelidada de independente.

Marcado para o Salão Brazil, sala situada na Baixa de Coimbra com óptimas condições para receber este tipo de músicos que se fazem acompanhar por poucos instrumentos, todos eles mais ou menos acústicos, o concerto era esperado com alguma curiosidade, especialmente por quem já tivera a oportunidade de ver Darren Hanlon, há poucas semanas, na Aula Magna, a abrir para os Magnetic Fields. Trazendo na bagagem uma guitarra (presa por um cordel) e um bandolim (que utilizou num par de músicas), percorreu os seus três Longa Duração editados até ao momento, nomeadamente o último Fingertips and Mountaintops (2006).
Ao longo de pouco mais de uma hora, sobressaíram do alinhamento temas como 'Elbows', 'I Wish That I Was Beautiful For You', 'Punk's Not Dead' e, claro, 'There's Not Enough Songs About Squash'.

Darren Hanlon é, acima de tudo, um contador de histórias. Seja durante ou entre as músicas, ou até mesmo ao balcão do bar após o concerto, a sua capacidade para comunicar e criar empatia com o público é desarmante. Desde histórias de amor a recordações de infância, Hanlon cria personagens que nos poderão falar de tudo, até de squash (tema que, de facto, poucos músicos desenvolvem). O humor e a vontade genuína de criar intimidade levaram a que, muito rapidamente, o ambiente na sala se tornasse absolutamente descontraído, com o público cada vez mais interessado em conhecer melhor este australiano, que confessou ter ficado muito impressionado com um rasganço que presenciara momentos antes e com o desempenho do apresentador do 'Preço Certo'...

Os concertos que encerrariam a sua digressão europeia seriam dias depois, em Inglaterra, mas como neste Universo dos singer-songwriters o stress está proibido, a noite não acabou por ali. Hanlon estava com vontade de sair, conversar e beber um Porto. Fizemos-lhe a vontade...



06 agosto 2008

Paredes de Coura 2008

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Este é o resultado da minha ida, com credencial da RUC, ao Festival Paredes de Coura.
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1º DIA
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[Palco Principal]
_Bunnyranch:
A edição de 2008 daquele que é talvez o melhor festival de Verão português abriu com os Bunnyranch, a primeira das 4 bandas de Coimbra a entrar em acção durante os 4 dias de concertos. A curiosidade de ver a abertura do festival, o Sol (que se iria manter até ao fim das festividades) e a possibilidade de ouvir o novo disco 'Teach Us Lord...', terão incentivado o público a encher o já mítico anfiteatro (semi-natural) de Paredes de Coura para ver os conimbricenses, já repetentes naquele palco, depois de por lá terem passado em 2004. Ao longo dos 40 minutos que lhes estavam reservados os Bunnyranch (todos de preto) deram as boas vindas ao público do Festival, liderados pelo irrepreensível mestre de cerimónias Kaló. O alinhamento foi buscar um pouco a cada um dos seus discos anteriores e, obviamente, a 'Teach Us Lord...' (a primeira metade de um album que se verá completo quando for editado, em Outubro, o 2º disco) do qual apresentaram o contagiante 1º single 'Top Top To The Top' e aquele que, segundo Kaló, será próximo, 'Stand By'.
_X-Wife:
Seguiu-se outra banda portuguesa, também repetente no Festival e também em vésperas de editar o seu 3º Longa Duração. Os X-Wife de João Vieira (que começa a fugir ao falsete), Fernando Sousa (que nunca deixa em casa os óculos escuros e o Vocoder) e Rui Maia (obcecado por qualquer som que um sintetizador possa produzir), aos quais se juntou um baterista convidado (estratégia iniciada precisamente em Paredes de Coura, no palco secundário, há duas edições atrás), continuaram a debitar energia Rock, mas envolta em ambientes Electro. Estão bem definidos os territórios musicais que percorre esta banda do Porto e as duas novas músicas apresentadas, pertencentes a 'Are You Ready For The Blackout?' entre as quais o single 'On The Radio', que contou com a presença de Raquel Ralha, dos Wraygunn, deixam antever um album bastante interessante.
_Bellrays:
A primeira banda estrangeira a pisar o palco principal foram os Bellrays. Trouxeram na bagagem a discografia e a competência de quem já tem 16 anos de edições e de estrada. Liderados pela vocalista Lisa Kekaula, que dá o toque soul e funk ao Rock com inluências Punk produzido pelos californianos, os Bellrays mostraram um pouco do seu novo disco, lançado este ano, 'Hard Sweet And Sticky'. Mas porque ainda faltavam 2 concertos e nem só de música vive o homem, os Bellrays acabaram por ser o elo mais fraco, pois uma boa parte do concerto foi apenas ouvido da zona da restauração...
_Mando Diao:
Já era noite cerrada quando entraram em palco os Mando Diao, eles que tinham cancelado a sua presença na edição de 2007. Talvez também por isso, os suecos eram aguardados por muito público que ao longo do concerto mostrou conhecimento dos temas mais emblemáticos da banda. Apesar do seu último registo, 'Never Seen The Light Of Day' ser claramente o mais fraco da discografia dos suecos, o concerto entusiasmou mesmo quem estava na parte superior do anfiteatro, isto porque os 5 meninos de Borlänge não faltaram certamente a nenhuma aula da disciplina de 'Rock & Roll'. E se isso se nota nos albums, ao vivo também é evidente que o Rock para os Mando Diao é uma religião.
_Sex Pistols:
Finalmente, o momento mais aguardado da noite, ainda que por razões diferentes. Uns eventualmente à espera do circo que os Sex Pistols pudessem montar, outros para verem se tinham acertado nas apostas sobre o peso de Johnny Rotten e amigos, outros ainda simplesmente para ouvirem e verem algumas das músicas mais marcantes da história do Punk. Pode-se dizer que nenhuma das facções terá ficado totalmente satisfeita porque se há coisa que os Pistols nunca conseguiram ser, foi unânimes. E mesmo que o tenham aprendido entretanto, não estão nada interessados em fazê-lo. Provocatórios e irónicos como sempre (houve até um punk criticado por Johnny Rotten por ter, imagine-se, subido ao palco), ninguém passou imune ao dedo indicativo da atitude Punk, desde o técnico de som a Alá. A banda de Londres, com os quatro membros originais (Rotten, Steve Jones, Paul Cook e Glen Matlock) tocou os seus maiores clássicos ('Pretty Vacant', 'God Save The Queen', 'Anarchy In The UK', 'EMI', entre outros) e ainda 2 versões ('No Fun', dos Stooges e 'Roadrunner' dos Modern Lovers). No fim dividiram, obviamente, opiniões. De um lado os que os acusavam de estar velhos e acomodados e de sobreviverem à custa de apenas um disco gravado há mais de 30 anos, do outro os que elogiavam a frontalidade de assumir que o fazem pelo dinheiro e de que as boas músicas são para continuar a tocar. Os Sex Pistols são provavelmente tudo isto e por isso, para o bem ou para o mal, a sua passagem por Paredes de Coura foi absolutamente marcante.
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[Palco Burn After Hours]
_The Mae Shi:
Com o fim dos concertos no Palco Principal o público dirigiu-se para o Palco 2 para assistir ao concerto dos The Mae Shi. O rapazes de Los Angeles deram um concerto bastante musculado, onde mostraram a sua veia de Rock experimental que já lhes valeu 3 discos desde 2004. O mais recente, o impronunciável 'HLLLYH', esteve presente no alinhamento e conquistou certamente mesmo quem não conhecia a banda californiana.
_DJ Amable:
A fechar a noite e o Palco 2, foi a vez do espanhol DJ Amable, presença habitual na discoteca Razzmatazz, em Barcelona. Apresentou uma selecção dos êxitos do momento, no que diz respeito às sonoridades Pop, Rock e Electro, indo buscar bandas como Los Campesinos, Vampire Weekend e The Gossip.
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4º DIA
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[Palco Ibero Sounds]
_Komodo Wagon:
No último dia de existência deste palco dedicado exclusivamente a bandas de Portugal e Espanha (mais uma boa ideia da organização) a abertura esteve a cargos dos Komodo Wagon. Não foram muitas as pessoas que se deixaram convencer pelos portugueses que apresentaram um Rock poderoso mas sem grande sabor.
_We Are Standard:
De seguida, de Bilbao, chegaram-nos os We Are Standard. Deram um concerto bastante suado e divertido, baseados num electro-pop-rock que fazia lembrar os !!! e os Happy Mondays. O quinteto espanhol foi uma boa descoberta para muitos, mas mostrou ter já bastantes fãs que vieram do lado de lá da fronteira.
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[Palco Principal]
_Ra Ra Riot:
Com o sol a começar a pôr-se, a Indie Pop dos Ra Ra Riot afigurava-se ideal para quem queria iniciar a noite de forma relaxada sentado na relva a bater o pé e a beber uma cerveja. Quem estava à espera de um concerto mais empolgante por parte dos 4 meninos e 2 meninas de Nova Iorque terá ficado, no entanto, desapontado. Apesar das boas músicas que os Ra Ra Riot compõem e da honestidade com que as interpretam, a falta de rodagem da banda não os conseguiu levar além de um concerto morno, o que para a abertura de um Palco Principal, não é nenhum pecado.
_Au Revoir Simone:
O concerto da noite, no que ao Palco Principal diz respeito, ficou guardado para as Au Revoir Simone, aquelas que são, provavelmente, as 3 meninas mais fofinhas (sim, estou consciente de que estou a usar esta palavra) do Universo da Pop. Erika Forster, Annie Hart e Heather D'Angelo pisaram timidamente o palco nos seus vestidinho coloridos, escondendo-se atrás dos seus 3 órgãos e sintetizadores, mas a meio do concerto anunciavam já que aquele era o melhor concerto que já tinham dado. Não é difícil de acreditar, pois a espontaneidade das palmas e os sorrisos enternecidos foram uma constante, tanto em palco, quanto no público. Criou-se um ambiente perfeito cuja banda sonora foram as melodias lindíssimas retiradas dos 2 discos das Au Revoir Simone e ainda inéditos igualmente bem acolhidos pelo público. Despediram-se dizendo que certamente as iríamos encontrar por aí, "dancing the night away". Eu bem que procurei...
_Tributo a Joy Division:
É difícil falar sobre o concerto de Tributo a Joy Division. E é assim pois estão em causa pessoas como, entre outros, Rodrigo Leão (Sétima Legião, Madredeus), Pedro Oliveira (Sétima Legião, Cindy Kat) e Pedro Gonçalves (The Gift). A ideia até pode ter sido boa. Se há banda que merece ser relembrada são os Joy Division e o currículo dos intervenientes levava a pensar que isso ser feito com dignidade e valor artístico. Outros, como os Low ou os Therapy já mostraram que tal é possível. No entanto, o concerto revelou-se penoso, para quem não conhecesse a banda de Ian Curtis, e revoltante para os restantes. Foi com um misto de tristeza, perplexidade e pena (pelos temas originais e por quem estava em cima do palco) que se assistiu ao desfilar de versões absolutamente fúteis e claramente pouco ou mal ensaiadas, que mais pareciam estar a ser tocadas por uma banda de liceu. Por momentos pareceu que a barraca de Karaoke existente no topo da colina tinha escorregado até ao Palco...
_Biffy Clyro:
A banda escocesa mostrou ter um número considerável de fãs que seguem o seu trabalho. Desde os primeiros temas do concerto o público reagiu com entusiasmo ao Rock (que misturava elementos de Noise, Grunge e até Nu-Metal) que a banda de Glasgow apresentou. É um power-trio com grande poder sonoro, muito coeso e coordenado (natural para quem já tem experiência de 10 anos de carreira em conjunto) no entanto, o concerto revelou-se um pouco repetitivo.
_Lemonheads:
Segui-se a banda de Evan Dando que ganhou notoriedade quando a euforia Grunge arrastou para as rádios a versão de Simon & Garfunkel, Mrs. Robinson (que ficou de fora do alinhamento), pertencente ao seu mais emblemático album 'It's A Shame About Ray'. Foi aliás a este disco de 1992 que os Lemonheads mais recorreram com temas como 'My Drug Buddy', 'Bit Part' e, claro, 'It's A Shame About Ray'. A grande maioria do público claramente não conhecia o trabalho da banda americana, pois nem os maiores êxitos causaram grande entusiasmo. A meio do alinhamento Evan Dando ficou sozinho em palco, apenas com a guitarra, e tocou meia dúzia de temas, nomeadamente alguns, se não estamos enganados, da sua carreira a solo. Foi um bom concerto para quem queria recordar a sonoridade dos anos 90, mas fraco para quem esperava saltar ao som de Rock 'orelhudo'.
_Thievery Corporation:
Os americanos Rob Garza e Eric Hilton subiram ao palco para aquilo que se esperava: um concerto cheio de sonoridades dub, funk, acid jazz e lounge, todas suportadas por vocalistas convidados que, rotativamente, faziam as honras de pegar no microfone. Desde dois senhores de rastas e sotaque jamaicano, a duas meninas (uma delas brasileira que não se cansou de pedir o apoio do público do "Porto"...), passando por um quase-crooner de cabelos grisalhos e pose distinta, todos foram dando voz aos ambientes criados pelos Thievery Corporation, banda com mais de 10 anos de história e que já contou com participações de nomes como David Byrne, Norah Jones, Perry Farrell (Jane's Addiction) e Wayne Coyne (Flaming Lips). Tornou-se num concerto algo maçador, o ideal para ver e ouvir num confortável puff da zona de imprensa...
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[Palco Burn After Hours]
_Caribou:
Eram já quase 3 da manhã quando subiu ao palco o senhor Daniel Snaith numa das suas peles, os Caribou. Fez-se acompanhar de mais 3 músicos (guitarra, baixo e bateria) enquanto que ele mesmo valia por outros 3, já que ia alternando entre outra guitarra, o sintetizador e uma segunda bateria. Abriu o concerto com temas do seu 'Andorra', de 2007, entre as quais a brilhante 'Melody Day'. Ao longo de uma hora a energia foi contagiante e só mesmo ela (e as excelentes interpretações dos canadianos) conseguiram manter firme o público cansado de 4 dias de festival. Com grande simpatia e competência, os Caribou alinhavaram um concerto cheio de psicadelismo e experimentalismo mas onde faltaram alguns traços de doçura pop da qual Daniel Snaith já mostrou ser capaz em disco.
_Twin Turbo:
A fechar, dois Dj's do Porto, Pedro Pinto e Nuno Pinto, sob o pseudónimo Twin Turbo, extenderam a noite até às 5 da manhã ao som de fortíssimas batidas techno e laivos de electro.
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Para fotografias do Festival aconselho estes [1], [2], [3], [4] posts do Paulo Pimenta.

06 julho 2008

GNR + GNR

Sê um GNR!
Estádio Cidade de Coimbra, 04.07.2008

foto: Ricardo Jerónimo

Pode ter começado por uma ideia à volta de uma mesa de café, mas foi, de facto, uma boa ideia. Juntar, no mesmo palco, o Grupo Novo Rock e a Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, foi (mais uma) tirada de mestre de Rui Reininho, Jorge Romão e Toli César Machado.

Depois do Pavilhão Atlântico, em Abril, foi agora a vez de Coimbra chamar a si, por altura das Festas da Cidade, o espectáculo GNR + GNR. Espectáculo que pode ter sido o último visto que, em conversa com Jorge Romão e Toli César Machado após o concerto, nos foi confessado que é um concerto com uma logística muito complexa e, portanto, difícil de contratar. Nem a autarquia do Porto mostrou interesse em promovê-lo, com grande pena para a banda originária da "Invicta".

O Estádio Cidade de Coimbra abriu as portas às 20h prometendo "animação" até ao início do concerto, marcado para as 22h. Animação que consistiu em 3 grande balões publicitários, um grupo de tocadores de bombo e gaita de foles e a música do italiano Zucchero nos altifalantes. Foi este ambiente que deu as boas vindas ao público que, lentamente, acabou por encher o topo sul do Estádio. Público de todas as idades e muito diverso. Casais de meia idade, avozinhos, adolescentes, criancinhas e também, claro, "pessoas normais". Todos, de uma maneira ou de outra, seguidores de uma banda com quase 30 anos de carreira.

E foram esses quase 30 anos que o alinhamento escolhido reflectiu. Desde pérolas da primeira fase da carreira, dedicadas aos fãs mais fiéis, como 'Espelho Meu', 'Hardcore (1º Escalão)' e 'Bellevue', às mais recentes 'Popless', 'Tirana' e 'Quero que vá tudo para o inferno', passando pelos inevitáveis clássicos 'Efectivamente', 'Morte ao Sol', 'Pronúncia do Norte', 'Sub-16' e, claro, 'Dunas'. Terão faltado muitas, mas uma seria especialmente apropriada: 'Sê um GNR'. No entanto, o receio de ferir susceptibilidades levou a banda do Porto a deixá-la de fora, apesar de esta ter sido uma das escolhas preliminares do Maestro Jacinto Montezo. Ele que dirigiu os 120 elementos da Banda Sinfónica da GNR que incluiam uma senhora que, quando não estava ocupada com a sua flauta transversal, cantava religiosamente todos os refrões. A Banda acompanhou a maioria dos temas com arranjos competentes e teve também a seu cargo alguns interlúdios instrumentais que faziam lembrar bandas sonoras como 'Star Wars', 'Indiana Jones' ou um qualquer clássico da Disney.

Rui Reininho esteve particularmente sossegado no que diz respeito à sua acidez natural, talvez tendo em conta o facto de ser o 'frontman' de tamanha responsabilidade. Ainda assim, não deixou de imitar os gestos elaborados do Maestro e de salpicar as letras, como faz habitualmente, com novos elementos. Jorge Romão, baixista absolutamente energético foi o que mais vezes se aproximou do público através de uma avanço do palco desenhado para o efeito. Finalmente, Toli César Machado, o único membro dos GNR originais (antes baterista e posteriormente guitarrista) foi o mais contido, como é seu timbre. Uma última palavra para os convidados que os acompanharam na bateria, na guitarra e nos teclados, excelentes músicos e de uma enorme simpatia que se estendeu até um conhecido café numa esquina da Praça da República.

Podia ter sido enfadonho, ou até mesmo decadente. Podia ter sabido a pouco. Podia não ter resultado. Mas, a verdade, é que resultou. Viva a GNR!

29 junho 2008

Flak [Micro Audio Waves]

Entrevista telefónica feita por mim ao Flak, dos Micro Audio Waves, na RUC. Flak fala do novo disco Odd Size Baggage, do prémio Quartz, da única Peel Session portuguesa, dos concertos e do regresso a Coimbra.

25 junho 2008

Stephin Merritt [The Magnetic Fields]

Entrevista telefónica feita por mim, na RUC, ao líder dos Magnetic Fields. Stephin Merritt fala da sua mudança de NY para LA, dos The Jesus and Mary Chain, de um concerto dos Einstürzende Neubaten, do novo disco Distortion e de zombies. Uma chamada internacional cheia de ironia e de delay...

26 maio 2008

Scarlett Johansson

[Anywhere I Lay My Head . Atco Records . 2008]













É difícil combater o preconceito: mais uma cara bonita que pensa que sabe cantar e que sempre quis gravar um disco... Esta será a reacção de muito boa gente à notícia de que Scarlett Johansson se lançou na gravação de um álbum.

Mas se inicialmente é o preconceito que prevalece (associado à curiosidade que o universo das 'celebridades' arrasta consigo) com a audição de Anywhere I Lay My Head cresce o sentimento de estranheza.

Estranheza que pode originar uma imediata recusa ou sentença definitiva. A mesma estranheza, no entanto, que geralmente envolve a primeira audição de grande discos que se vão assimilando e redescobrindo a cada audição.

Desde logo, Scarlett tem o mérito de se saber rodear. Para a produção chamou Dave Sitek dos TV On The Radio, que por sua vez convidou Nick Zinner, guitarrista dos Yeah Yeah Yeah's, Sean Antanaitis dos também nova-iorquinos Celebration e ainda o incontestável David Bowie, que canta em Falling Down e Fannin Street.

O disco é uma homenagem ao seu compositor de eleição, Tom Waits, mas apesar dessa premissa eventualmente redutora, Scarlett consegue não fazer um disco 'óbvio'. As escolhas das músicas é criteriosa e a sua sonoridade reveste os esqueletos de Waits com várias camadas de shoegaze (percebe-se agora a sua aparição em palco com os The Jesus and Mary Chain, no Festival Coachella há cerca de um ano). A excepção às composições de Waits chama-se Song For Jo, escrita pela própria Johansson e por Sitek.

Editado no início de Maio, pela Atco Records, Anywhere I Lay My Head apresenta uma Scarlett Johansson de extremos: doce mas áspera, insegura mas atrevida, soturna mas luminosa.

Primeiro estranha-se, depois...
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12 abril 2008

The Breeders

[Mountain Battles : 4AD . 2008]














As irmãs Deal estão de volta. Foi a isso que nos habituaram: grandes paragens intercaladas com meticulosos reaparecimentos. Kim, a eterna líder dos The Breeders e a sua irmã gémea, Kelley, têm em Mountain Battles um regresso que era obrigatório.

Obrigatório porque o anterior Title TK (2002) tinha deixado um certo sabor a ferrugem. Obrigatório porque sabíamos que as meninas, chamassem fosse quem fosse para o baixo e para a bateria, conseguiriam fazer mais um album perfeito, como fora Last Splash (1993).

Steve Albini, produtor dos The Pixies (onde Kim Deal era o anjo do diabólico Frank Black), também esteve, mais uma vez, metido ao barulho. É também dele o mérito de conseguir criar um disco tão diverso quanto coerente. A filosofia All Wave, onde os computadores e os processos digitais são preteridos a favor da gravação analógica, foi religiosamente utilizada nas diversas sessões feitas em diferentes locais e ao longo de tempos muito dispersos. Mas o rock lo-fi, a folk, o experimentalismo (no que de improviso e dissonante reveste o termo) e até um improvável bolero, convivem em Mountain Battles sem qualquer atrito, ou se preferirem, com a dose exacta do mesmo.

Mas o mérito principal vai, provavelmente, para a voz doce de Kim Deal. Uma doçura que já conhecemos, mas que com o passar do tempo se vai tornando quase maternal.


Foi novamente a inglesa 4AD que colocou o selo em mais esta gravação da banda, que andará em digressão pelos Estados Unidos e pela Europa, durante a Primavera e o Verão. Esperamos ansiosamente...


//myspace

08 março 2008

Vagabond Opera

No tempo em que os homens usavam chapéu
CAE, Figueira da Foz 07.03.2008

foto: bruno raposo
O Grande Auditório do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz foi, de facto, demasiado grande para os Vagabond Opera, banda de Portland, pela primeira vez no nosso país. Estaria cerca de um quarto da sua capacidade total ocupada, maioritariamente por casais de meia-idade, bem vestidos e, certamente, à espera de um “agradável serão”…

Foi ainda com dúvidas sobre se o que teria atraído mais as pessoas ao concerto tinha sido a mistura de Cabaret, Tango e Opera praticada pelos Vagabond Opera, se a sua aparição recente no programa da Fátima Lopes, foi ainda com dúvidas, dizia, que a luz se apagou. Um foco atingiu o palco e assim que a menina Lesley Kernochan colocou uma moedinha num balde e deu a uma manivela imaginária, o espectáculo começou.

Em trajes que, não fosse o seu excelente estado de conservação, poderiam ter quase um século, surgiram um cantor de ópera acordionista e mestre de cerimónias, um saxofonista dançarino e cantor, uma saxofonista e cantora lírica com agudos impossíveis que também tocava serrote, um virtuoso violoncelista aparentemente alheado do mundo em movimentos deslizantes como quem apaga cigarros, um contrabaixista com cara de bom rapaz e um baterista que falava português com sotaque do Brasil.

Foi este sexteto que durante hora e meia conseguiu misturar nomes como Édith Piaf, Charlie Chaplin e Jacques Brel, lugares como o Mississipi, Itália e Macedónia e estilos como a valsa, a chanson française e música cigana.
O espectáculo vinha "enlatado e pronto a consumir", em tudo o que isso possa ter de bom e de mau. Algo nervosos e presos na primeira metade do concerto, foram aos poucos mexendo-se mais naturalmente, contando algumas historietas e criando empatia com o público, o que foi apenas totalmente conseguido no encore. Conseguiram mesmo levar à histeria pelo menos 3 meninas que, com grande probabilidade, se chamariam Rita, Joana e Teresinha.

Depois de abandonar o palco a banda deve ter desatado a correr pelo backstage pois ao sairmos do Auditório já estava a vender os seus dois discos editados até ao momento "Get On The Train", de 2003, e "Vagabond Opera", de 2006, bem como a dar alguns autógrafos e a tirar fotografias com quem assim quisesse.

Foi aí que nos confessaram que tinham feito, pela primeira vez, playback no programa da Fátima Lopes e que tinham ficado muito impressionados tanto com o ventríloquo residente no programa como com o senhor que antes tinha estado a falar sobre hemorróidas.

Enfim, tudo bons rapazes…

02 fevereiro 2008

Madrugada

[Madrugada : Malabar Recording Company . 2008]














É quase impossível falar de Madrugada, o album homónimo da banda norueguesa, sem constatar que este está marcado simultaneamente pela ausência e pela presença de Robert Buräs.

Composto maioritariamente na primeira metade de 2007, antes da trágica e enigmática morte do guitarrista, encontrado sem vida no chão de sua casa, aos 31 anos, o disco foi gravado entre a Escandinávia e os Estados Unidos.

A gravação foi concluída por Sivert Hoyem (voz) e Frode Jacobsen (baixo) que encararam o processo como uma terapia e como a forma mais genuína de se manterem fiéis à visão que os três, em conjunto, tinham construído para este album. Album que termina simbolicamente com Our Time Won't Live That Long, cantado por Buräs, algo de inédito nos Madrugada, apesar de acontecer no seu projecto paralelo, os My Midnight Creeps.

Este é já o quinto LP de estúdio desta banda que já visitou Portugal em três ocasiões e sucede a Live At Tralfamadore, o seu registo ao vivo editado em 2005. Madrugada, lançado pela editora da banda, a Malabar, voltou a contar com John Agnello na produção, ele que já tinha produzido aquela que é a obra prima dos Madrugada, The Nightly Disease, em 2001 e misturado o primeiro longa duração da banda, Industrial Silence, de 1999.

As composições deste album são construídas, uma a uma, como se fossem um derradeiro sopro da sonoridade que os Madrugada construiram. É a confirmação, se esta fosse precisa, do sangue que tem percorrido as veias dos Madrugada nos últimos 10 anos: sobre as estruturas da trilogia rock, folk e blues, patentear uma identidade absolutamente reconhecível.

Esta é uma delas. O primeiro single, Look Away Lucifer.



//myspace

20 janeiro 2008

The Go! Team + Coldfinger

A noite em que os extra-terrestres desceram ao Porto.
Casa da Música, Porto 19.01.2008
foto: Bruno Raposo

Dia 19 de Janeiro de 2008, viagem Coimbra – Porto com destino a mais uma noite de "Clubbing", na Casa da Música, evento em tons cor-de-laranja, promovido por uma operadora de telemóveis. O objectivo: assistir ao 3º concerto dos ingleses The Go! Team em Portugal, eles que tinham estado na noite anterior no Lux, em Lisboa, e no ano passado no Oeiras Alive.

Antes de subirem ao palco os rapazes e raparigas de Brighton, passaram pela Sala 2 da Casa da Música, toda forradinha a painéis vermelhos que proporcionam uma óptima acústica, os lisboetas Coldfinger de Margarida Pinto e Miguel Cardona que proporcionaram um concerto algo morno, ao som do seu último LP ‘Supafacial’, editado em 2007, após um interregno de 5 anos.

Mas quem lá estava, estava lá para outra coisa e não teve grande dificuldade em responder à pergunta/grito de abertura da MC Ninja: “Who came here to partyyyyy?!” Se a Casa da Música é muitas vezes comparada a um OVNI, então os The Go! Team foram os seus dignos ocupantes, disparando feixes de energia sonora altamente dançável para os terráqueos que estavam à sua frente. É difícil descrever esta banda, até porque os seus elementos saltitavam freneticamente entre todos os instrumentos, que incluíam duas baterias, (uma não chegava, pois claro!...).

Mas é também impossível não nos rendermos praticamente de imediato a uma vocalista que parece que veio directa do Bronx onde estava a saltar à corda com as amigas, duas meninas com a tranquilidade tipicamente oriental (uma mais voltada para a guitarra e outra para a bateria), um outro baterista que também debitava feed-back na guitarra e se agarrava a uma gaita de beiços, um teclista com ar nórdico e com vontade de experimentar, e, finalmente, um baixista com o aspecto de quem saiu de uma série americana do final dos anos 70, ele que ao longo de todo o concerto se manteve (quase) fiel às suas 4 cordas, tendo-as apenas deixado no ‘encore’ para se dedicar de alma e coração a um xilofone.

O alinhamento (pedaço de papel muito cobiçado no final do concerto) intercalou temas dos seus dois discos, ‘Thunder, Lightning, Strike!’, de 2004 e ‘Proof Of Youth’, do ano passado, com destaque para ‘Grip Like a Vice’ e ‘Ladyflash’. Apenas ficou a faltar a muito requisitada versão de ‘Bull In The Heather’, dos Sonic Youth, que Ian Parton e Kaori Tsuchida nos negaram com um sorriso. Os The Go! Team são, de facto, uma equipa que não sabe para onde vai... E o melhor, é que nós também não.

(Ainda uma dica, daquelas de reportagem turística para uma qualquer revista da especialidade: Não deixar escapar a oportunidade de jantar no restaurante/tasca ‘Reis & Soares’, mesmo na Rotunda da Boavista. Um local muito peculiar…)